segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PLANTAS NATIVAS PREVINEM CÁRIES

GUIA DENTAL

Pesquisas de diferentes universidades descobrem em plantas nativas do Brasil a capacidade de evitar o desenvolvimento de cáries e placas nos dentes, o que tem levado à produção de novas alternativas de enxaguantes bucais, produtos que têm o uso cada vez mais difundido entre os brasileiros, mas que, com o uso indevido, podem causar problemas como o aparecimento de manchas e até mesmo intoxicação.Um desses estudos foi desenvolvido na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, ligada à Universidade de São Paulo (USP), onde os cientistas criaram um antisséptico bucal feito a partir da espécie Baccharis dracunculifolia, popularmente conhecida como alecrim-do-campo ou vassourinha. A planta apresenta várias características que conferem ao produto algumas vantagens em relação às marcas disponíveis atualmente no mercado, como sabor menos forte, baixa toxicidade e ausência de efeitos como adormecimento da língua e ardência na boca. A invenção teve a patente registrada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) e está pronta para ser produzida em escala industrial.De acordo com um dos responsáveis pelo projeto, o farmacêutico Mateus Freire Leite, que desenvolveu o enxaguante em sua pesquisa de doutorado e atualmente é professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o produto tem a vantagem de ser totalmente natural. “Desenvolvemos algo inovador. O enxaguatório bucal apresentou baixa toxicidade e mostrou-se ativo contra o Streptococcus mutans, um dos principais microrganismos responsáveis pela formação das cáries”, revela.Um dos problemas dos líquidos para esse fim disponíveis no mercado está no fato de que seu uso diário e prolongado pode causar manchas nos dentes. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Norberto Francisco Lubiana, o uso do produto deve ser controlado. “Existe uma série de problemas relacionados ao seu uso indiscriminado, desde reações alérgicas a danos às mucosas bucais. Assim, o paciente deve sempre pedir a orientação de um dentista na hora de optar pelo uso do produto”, explica.Problemas que, segundo Leite, não ocorrem com o uso do alecrim-do-campo. “Trata-se de uma substância que não possui toxinas, além de atenuar os problemas da halitose (mau hálito)”, conta. “O produto passou também por análise sensorial, apresentando sabor agradável, com refrescância, sem provocar ardor ou sensações de dormência na língua”, completa. Para o pesquisador, essa característica pode facilitar o uso por parte das crianças.AmazôniaOutra pesquisa que promete melhorar a qualidade dos antissépticos bucais vem da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, e da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), ligada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Um estudo das duas entidades — que contou ainda com pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e da University of Rochester (EUA) — concluiu que uma planta conhecida como bacupari, abundante na Amazônia, também pode resultar, no futuro, em um líquido que ajude no combate às cáries.Os cientistas descobriram que a planta é rica em uma substância denominada 7-epiclusianona, que impede o crescimento de bactérias que atacam os dentes. Segundo o professor da Unifal Marcelo dos Santos, a resistência dos frutos de bacupari à ação de agentes externos, mesmo depois de caírem das árvores, foi um dos sinais que levaram os cientistas a estudarem melhor a planta. “A fruta fica conservada um bom tempo depois de cair no chão. Isso pode indicar substâncias antibacterianas na casca”, explica. “Há também relatos de pessoas que usam o extrato do fruto para tratar a afta”, completa.Testes laboratoriais em ratos comprovaram que a 7-epiclusianona é capaz de evitar o desenvolvimento de bactérias bucais. Uma das vantagens da planta está na alta concentração da substância. Segundo Santos, a maioria das substâncias que pode virar remédio está em baixíssimas concentrações nas plantas — média de 50mg para cada quilo da planta seca. “Em muitos casos, isso inviabiliza o uso direto como fármacos. Mas, no bacupari, essa quantidade é pelo menos 500 vezes maior”, comemora.Para saber maisUso deve ser moderadoOs antissépticos bucais são produtos auxiliares à escovação que previnem problemas como cáries, infecções nas gengivas e na língua e formação de placas e tártaro. No entanto, a alta concentração de substâncias corrosivas e álcool pode prejudicar a flora e a mucosa bucais, além de afetar o esmalte dos dentes e causar o surgimento de manchas.Segundo o presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Norberto Francisco Lubiana, seu uso não deve ser diário. “A menos que seja um paciente que acabou de passar por uma cirurgia bucal e por isso não consegue passar a escova em algumas áreas da boca, o seu uso deve ser no máximo em dias alternados”, explica.Outro alerta dos dentistas é quanto a não utilizar esses produtos em substituição à escovação e ao uso do fio dental nem no tratamento de mau hálito. “Eles devem ser usados para a obtenção de uma proteção extra, jamais para substituir o uso da escova. Em casos de mau hálito, ele oferece apenas um efeito refrescante imediato, já que não limpa totalmente a boca, deixando restos de alimentos que causam o cheiro desagradável e as cáries”, completa Lubiana.

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